sábado, 31 de março de 2007

A revolta dos sargentos

Nunca é demais lembrar: Hoje é 31 de março, data oficial do golpe militar de 64.

O assunto é resistência ao arbítrio? O negócio é com os mineiros, os heróis da independência brasileira. Depois do martírio dos inconfidentes o Brasil se libertou do jugo português e caminhou célere para se transformar numa república. Mas os novos inconfidentes nacionais são os sargentos da aeronáutica. No dia 30 de março, 200 deles paralisaram o tráfego aéreo em todo o Brasil - afetando até países vizinhos como Argentina e Uruguai, já que aviões internacionais não podiam cruzar o espaço aéreo brasileiro. Três companhias norte-americanas (United, American e Delta) cancelaram todos os vôos de sexta-feira (30/3) à noite para o Brasil e para Buenos Aires.
O motim dos sargentos ameaça o cargo dos ministros da Defesa [Waldir Pires] e da Aeronáutica [comandante Juniti Saito], mas tem gente da oposição comemorando e trabalhando para que a revolta dos sargentos por melhores salários e condições de trabalho ajude a derrubar o presidente Lula. Pois este motim é considerado maior entre as forças armadas desde a revolta dos sargentos, em 1963.


História
Foi numa operação assemelhada que no dia 12 de setembro de 1963, sargentos da Aeronáutica e da Marinha [juntamente com cabos e suboficiais das duas armas] comandados pelo primeiro-sargento Antonio Prestes de Paula, da Aeronáutica, que também paralisou o país e foi mais um motivo para o golpe militar de 1964 tão aguardado pelos militares e civis da direita. Naquela ocasião o motim dos sargentos da Marinha e da Aeronáutica redundou em um morto e dois feridos. Na rebelião de 63, os sargentos tomaram a Rádio Nacional, cortaram as ligações telefônicas de Brasília com o restante do País e detiveram oficiais e um ministro do Supremo Tribunal Federal em protesto contra a decisão do Tribunal de declarar inelegíveis os praças e cassar o mandato de dois sargentos. O general Jair Dantas Ribeiro, ministro da Guerra, determinou o endurecimento contra os revoltosos e a manifestação foi reprimida pelo Exército, que prendeu 600 sargentos.
É claro que a situação hoje é outra, mas, pelo bem da democracia não se pode fazer ouvidos moucos para a situação. Vivemos em pleno Estado de Direito e o próprio presidente Lula interviu contra a prisão dos grevistas, decretada pela Aeronáutica. Mas tem oficial graduado querendo aplicar a mão-pesada militar contra os sargentos. Em entrevista ao jornal "Estado de São Paulo", o tenente-brigadeiro da reserva Sérgio Ferolla, ex-presidente do Superior Tribunal Militar (STM), vê agitação sindicalista contaminando os ânimos da tropa. “O que está ocorrendo é o modelo típico de 63: meia dúzia de sindicalistas radicais insuflando a tropa”, afirma. “O que estão fazendo com os passageiros é traição ao País, que está refém de alguns sargentos”. Ele defendeu “cadeia grossa para quem está comandando isso aí”.
Memória
Se a coisa fosse com um ministro da velha escola política mineira, certamente mandaria "o trem pagador" para minimizar a revolta dos sargentos, mesmo porque cadeia não resolve. Veja o caso do primeiro-sargento Antonio Prestes de Paula. Em 1968, no conjunto penitenciário da Rua Frei Caneca, na cidade do Rio de Janeiro, que abrigava em sua população carcerária vários ex-militares que haviam sido condenados por fomentarem a indisciplina militar, se juntou a outros sargentos e fundaram o MAR, Movimento de Ação Revolucionária.
Em 1969 os militantes do MAR fogem da cadeia com o objetivo de implantar um foco de guerrilha na Região de Conceição de Jacareí, próximo a Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. O ex-sargento Antônio Prestes de Paula tentou, sem sucesso, implantar uma guerrilha no interior, enquanto parte do grupo praticava assaltos a bancos para financiar o movimento. Mas a vida dura e desconfortável de "guerrilheiro" o obrigou a retornar à cidade e aos assaltos a bancos. Em 1969, Antonio Prestes aderiu ao PCBR e, juntamente com Capitani [Avelino Bioni Capitani], no dia 17 de dezembro de 1969, participaria de um assalto ao Banco Sotto Mayor, na Praça do Carmo, em Brás de Pina, quando Capitani matou o Sargento da PMEG Joel Nunes. Segundo dados de Recordando a História o MAR não era orientado por nenhum documento base. Sem tecer avaliações conjunturais, fazia uma opção espontaneísta pelo "foco guerrilheiro", ao melhor estilo cubano. O dia 7 de agosto de 1969, data do assalto ao Banco Nacional de São Paulo, foi um dia fatídico para o MAR, início do fim de sua efêmera vida como organização.

Nenhum comentário: