sábado, 11 de agosto de 2007

E agora, Grande Mídia

Por Lucas Martins

A grande mídia nacional está devendo explicações aos brasileiros.
Quando da explosão do Airbus A320 da TAM no prédio da empresa, no final da pista do Aeroporto de Congonhas, a grande mídia foi unânime em buscar "especialistas" que imediatamente viram na tragédia do vôo 3054 da TAM uma co-relação com o chamado apagão aéreo - denominação da grande mídia para a crise aérea que atormenta a vida de alguns milhares de brasileiros. Esquecendo a decantada insenção, independência e imparcialidade jornalística - a grande mídia foi rápida em apontar a pista escorregadia por falta de ranhuras na pista de Congonhas como a "assassina" dos passageiros do vôo 3054. Todos os jornais gritaram em manchetes que a pista foi entregue sem o chamado 'grooving'. O Estado de São Paulo, porexemplo, deu grande destaque para entrevista de gente que mostra a culpa do governo, entre estas entrevistas está a do agente de segurança de vôo do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Carlos Camacho. ["Era de se esperar que isso ocorresse. Um avião lotado, portanto, pesado, um dia de chuva e com empoçamento de água, o piloto fica sem ter como controlar o avião", disse Camacho. "A solução agora é enterrar os mortos", afirmou. O sindicalista culpou a "ganâncias das empresas áreas e a incompetência da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) pelo acidente desta terça-feira, 17"]. Mais tarde, ao seanalisar as caixas pretas que o problema não foi de derrapagem, ou seja, não havia empoçamentos na pista. É claro que o alvo da grande mídia é o presidente Lula e não os tecnocratas da Anac e da Infraero.
O governo, como sempre que a imprensa o acusa, ficou numa saia justa. Até mesmo o afastamento sensato do presidente do noticiário num momento de comoção das famílias foi criticado veementemente por todos os articulistas, só faltaram dizer que o presidente Lula é quem havia matado aquelas pessoas – tudo o que Lula dissesse naquele dia seria pouco para a dor de quem perdeu um ente querido numa tragédia daquela dimensão. A saia do governo estava tão justa que levou um ministro experiente como Marco Aurélio Garcia a fazer 'top, top, top' flagrado pela câmara da Globo - quando a Rede Globo anunciava que os freios aerodinâmicos [os flaps] do A320 não foram acionados e que o reverso "pinado' [travado] poderia ter parcela de culpa no acidente que vitimou tantos brasileiros. O gesto obsceno do assesor presidencial foi a deixa para mais pauladas nas costas do presidente. O que era para ser um notícia que aliviaria o governo colocou mais lenha na fogueira do rancor e do oportunismo.
Ora, a cada dia que se faz uma leitura mais acurada das chamadas caixas pretas [que na verdade têm a cor laranja], fica evidenciado que algo de errado aconteceu na cabine do Airbus A320 – uma máquina de altísssima tecnologia que falhava pela terceira vez, da mesmíssima forma, devido a um reversor pinado. O reversor de cada turbina é auxiliar importantíssimo para a frengem de um avião daquele porte, numa pista curta como é a de Congonhas. A falta de um reversor confunfiu pilotos e computadores. Apesar dos inúmeros computadores, o A320, infelizmente, fez os pilotos cometerem erro fatal para eles e para passageiros e tripulantes. Ou você acredita que comandantes experientes com milhares de horas voadas cometeriam um erro básico deste, de graça. Acredito que por estar o reverso pinado [travado] algo aconteceu com o manete direito ou com os computadores do avião, que permitiu que a turbina direita [a do reversor pinado] continuasse em aceleração, ao invés de frear. Porque um avião de alta tecnologia (francesa, país do chamado Primeiro Mundo) como o Airbus A320 não possui aviso sonoro e de luzes apontando que amanete está fora da posição. Até mesmo o meu carro velhinho me avisa quando deixo a porta um pouco aberta.
A pista de Congonhas realmente é curta e não comporta um avião como o Airbus A320 com 62 toneladas de peso total – caso do vôo 3054. O aeroporto não tem área de escape o que o torna um aeródromo perigoso para qualquer aterrissagem, mas tenho minhas dúvidas se naquela velocidade [175 Km por hora] o A320 conseguiria parar. Quanto a falta de 'grooving', vale lembrar que os aeroportos de Confins [Internacional Tancredo Neves] e da Pampulha não têm ranhuras. Guarulhos também não. Pelo que fui informado, apenas quatro aeroportos no Brasil possuem este mecanismo para ajudar a frear um avião em época de chuvas. Mas, incrivelmente, a grande mídia nunca alertou os passageiros sobre este detalhe. O certo é que as notícias de pistas escorregadias foram e continuam sendo amplamente vazadas para a imprensa por controladores insatisfeitos com seus salários e empregos.
A grande mídia deu grande destaque para esta tragédia porque nela morreram pessoas que podem andar de avião. Mas porque não dar destaque para as centenas de vítimas fatais que morrem a cada hora nas estradas brasileiras. Hoje mesmo, em Minas, na BR 381 entre Belo Horizonte e João Monlevade, três brasileiros morreram carbonizados numa tremenda batida entre um caminhão de transporte de combustível e um carro de passeio. O outro brasileiro foi dilacerado dentro de seu carro. Onde estão as manchetes da grande mídia?

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