terça-feira, 1 de maio de 2007

Batismo de Sangue, emocionante

fotos: divulgação

Fui assistir ao filme Batismo de Sangue, do livro homônimo de Frei Betto. Confesso que chequei à sala de projeção do Pátio Savassi com um pé atrás. Afinal, pensava que os cineastas brasileiros haviam esgotado o tema ‘ditadura militar brasileira’ . Mas me surpreendi com o realismo profundo do diretor Helvécio Ratton, que, baseado no roteiro de Dani Patarra, nos mostra uma narrativa de um filme emocionante e humanista. Poucos serão os expectadores que sairão da sessão sem fazer uma reflexão de quanto mal causou aos brasileiros a ditadura implantada entre 1964 e 1985.
Vale lembrar que a qualidade da narrativa, do elenco e da fotografia (direção do Lauro Escorel), nada fica a dever às películas Hollywoodianas. O diretor Ratton mostra o envolvimento de frades franciscanos, que transformam o Convento Dominicano, em São Paulo, numa trincheira na luta contra a repressão implantada em nosso País. Mesmo contrariando o bom senso e suas seguranças pessoais, os freis Betto (Daniel de Oliveira), Oswaldo (Ângelo Antônio), Fernando (Léo Quintão), Ivo (Odilon Esteves) e Tito (em interpretação magistral e comovente de caio Blat) mergulham de corpo e alma na luta contra a ditadura militar, apoiando o grupo guerrilheiro Ação Libertadora Nacional (ALN), comandado por Carlos Marighela, interpretado pelo o músico mineiro Marku Ribas.
O Calvário de Tito
O filme é centrado no calvário e morte de Frei Tito de Alencar Lima, numa narrativa perfeita do diretor Helvécio Ratton, que filmou em Minas Gerais [Belo Horizonte e interior], no Rio de Janeiro e na França. Nunca antes, no cinema nacional, os métodos sombrios e violentos da tortura foram tão explicitados. Como diz o próprio diretor Ratton: “A ação política dos dominicanos, sua prisão e tortura, e a paixão e morte de um deles, Frei Tito, revelam aspectos transcendentes. Medo, compaixão, coragem, crueldade, são os ingredientes atemporais desse filme. Batismo de Sangue conta uma história vivida nos anos 60 e 70, mas é um filme do século XXI”.
Depois das humilhações no pau-de-arara, na cadeira-do-dragão, e da tortura psicológica comandada pelo delegado-carrasco Sérgio Paranhos Fleury, conhecido como “Papa” por seus subordinados (numa interpretação surpreendente de Cássio Gabus Mendes), Frei Tito [juntamente com outros prisioneiros políticos] é trocado pelo embaixador suíço no Brasil, [Giovani Enrico Bucher] seqüestrado por grupo guerrilheiro. Contra sua vontade, Tito é mandado para o exílio – primeiro no Chile, depois Itália e França. As torturas sofridas em estabelecimentos do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) paulista e das Forças Armadas, comandada pelas mãos sanguinolentas e cruentas do delegado Fleury, endoidecem o Frei Tito, que não consegue ficar livre de seus carrascos. Por onde passa, acredita estar sendo vigiado e ameaçado. Com intuito de pôr fim ao seu martírio e se livrar de seus perseguidores, Tito comete suicídio, apenas três anos depois de sua libertação, em agosto de 1974.
“Esta tragédia sempre me impressionou. Como um jovem de apenas 28 anos de idade pôde ser tão afetado pela violência a ponto de não conseguir recompor a própria vida e encontrar um eixo para seguir em frente mesmo depois de se ver livre de seus algozes”, comenta o cineasta. Esta cena, do suicídio, ato condenado pela Igreja, é a que abre e fecha o “Batismo de Sangue”, cujo simbolismo retrata bem a violência utilizada contra os opositores do regime imposto aos brasileiros nas décadas de 1960 e 1970.
O universo sombrio da ditadura
O filme traz cenas que realmente precisavam ser mostradas, para que as velhas e novas gerações de brasileiros jamais esqueçam o que foi a ditadura militar. Como finaliza Helvécio Ratton: “Decidi filmar Batismo de Sangue com alto grau de realismo, para mostrar toda a intensidade dramática e física daqueles acontecimentos. De forma diferente de outros filmes sobre o período, as cenas de tortura não são apenas ilustrativas. A tortura é parte da estrutura dramática, mostrada do ponto de vista do torturado, usada para arrancar informações que mudaram o curso da história e aqui fazem avançar o filme. Embora trate de acontecimentos políticos, Batismo de Sangue não é um filme ideológico, nem foi concebido para dar lições de moral ou defender certa visão do mundo. O que nos interessa é extrair da história vivida por determinados homens um conhecimento mais profundo da vida e da condição humana”.
• Enviado por Lucas Martins

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